Giba abre o jogo, fala sobre Ronaldo, Ricardinho, Bulgária, critica cultura no Brasil e diz que adversários tremem diante da seleção
Bruno Voloch
O mundo do esporte se abalou recentemente com a despedida de Ronaldo. A noticia mexeu com ídolos de todas as modalidades. Giba, referência no vôlei e considerado um dos jogadores mais completos da atualidade, falou com o blog sobre Ronaldo e das recordações que guarda do fenômeno. Giba confirmou ainda que vai estar na olimpíada de Londres em 2012, afirmou que não joga só por causa do nome e disse nada ter contra Ricardinho. O jogador confessou ter ficado surpreso com a repercussão negativa da derrota do Brasil para a Bulgária no mundial. A cultura, segundo ele, precisa mudar. Giba admitiu que algumas seleções ‘tremem’ diante do Brasil e elogiou o treinador Silvano Prandi. Giba se recupera de uma contusão no tornozelo e deve voltar ao time do Pinheiros após o carnaval.
Você se surpreendeu com a notícia da aposentadoria de Ronaldo ?
Não. A coisa mais complicada na carreira de um atleta é saber a hora de parar. Ele refletiu bem e achou que era o momento certo.
E a questão do problema na tireoide como funciona para um atleta ?
Eu tenho uma situação semelhante, mas no meu caso eu não consigo engordar (hipertireoidismo). Eu tomo remédio diariamente para a tireoide e quando entrou de férias chego a perder 3 quilos de massa muscular. Hoje tenho apenas 5% de gordura.
Qual a recordação que você guarda do Ronaldo ?
A imagem dele levantando a taça em 1994 na copa dos Estados Unidos. Lembro como se fosse hoje e neste mesmo período a gente estava embarcando para o mundial juvenil. Não sou muito ligado em futebol, assisto sempre os jogos do Brasil em copas do mundo e a de 94 está nítida em minha cabeça.
E o drama que muitos atletas como Ronaldo vivem com as contusões ?
É uma pena. Nunca fiz nenhuma cirurgia, mas conheço vários talentos que tiveram que interromper a carreira por causa de contusão. Lembro do Marcelo Negrão na Liga Mundial de 2001. Ele arrebentou a patela do joelho assim como o Ronaldo quando jogava no Inter de Milão. A patela do Marcelo veio parar na coxa, foi uma imagem impressionante.
Ronaldo e Giba estão com a mesma idade. Você já decidiu quando deixa o esporte ?
Planejo tudo em minha vida. Quero jogar a olimpíada de Londres em 2012, mais dois anos em clube e depois parar. Vou estar com 37 anos e quero curtir minha família.
Como pode garantir que vai estar em Londres ?
São 15 anos de seleção adulta. Se estou na seleção é porque tenho talento ainda. Não admito estar na seleção só por ser experiente, bom de grupo, capitão ou coisas do gênero. O dia que sentir que não posso ser mais útil, não quero mais ser convocado.
E o Giba volta a jogar na europa ?
Não. Só ser for para ganhar o que o Ronaldo ganhava …
Ricardinho podemos falar sobre ele ?
Sim. Por mim. Não tenho rancor do Ricardo.
Ele ainda teria espaço na seleção ?
Seleção não é uma decisão minha, desculpe. Eu treino e jogo, não sou o treinador.
E essa imagem de bom moço que acompanha você desde os tempos de juvenil ?
Olha, posso dizer quem em 18 anos de carreira nunca fiz nenhum inimigo no esporte.
Hoje quem é o melhor jogador brasileiro em atividade ?
Dante. Ele está muito bem na Rússia.
E quem foi seu melhor treinador ?
Técnico é uma questão de ser o cara certo na hora certa de sua vida. Me lembro bem do Silvano Prandi que dirigiu a Bulgária. Em 2003 quando fui suspenso por doping na Itália, ele me deu a mão e tive uma lição de vida no clube em que atuava. Me senti protegido e atitudes como essa a gente nunca esquece.
Por falar em Bulgária. A seleção agiu certo entregando aquele jogo no mundial ?
Sei que somos referência, claro. Mas digo que a gente não imaginava que o resultado tivesse uma repercussão desse tamanho. Foi um susto, mas não tinha jeito, poupamos o Bruno e era o melhor caminho no mundial. Mas a culpa é nossa. Acostumamos a torcida dessa forma, ou seja, ganhando tudo que disputamos. Quando tropeçamos vira decepção, crise, como em 2008 em Pequim.
Como assim ?
Perdemos para a ótima seleção dos Estados Unidos que tinha um time espetacular e mereceu ser medalha de ouro. Nós é que estamos errados e deveríamos valorizar a prata. Ou aquela geração de 84 não vale nada ? Claro que vale e muito, mas aqui só valorizamos o primeiro lugar. Essa é a cultura no Brasil.
Os adversários realmente ‘tremem’ quando enfrentam o Brasil ?
Cara, a confiança que temos é algo inacreditável. Temos uma mentalidade vencedora e a gente criou esse respeito. Eles acham que podem ganhar, mas no fundo sabem que vão perder. Não sei se isso é tremer, mas é assim hoje em dia. Não somos imbatíveis, mas quando perdemos ou causamos algum tipo de frustração como na derrota para a Bulgária, esse situação é supervalorizada.
Qual a diferença do Brasil para as demais seleções ?
Renovação. Hoje nenhuma seleção no mundo renova como a nossa. Fora isso, a estrutura que temos em Saquarema faz diferença. O Ary Graça nos dá todas as condições de trabalho e o exemplo do trabalho da CBV com as seleções deveria ser seguido por outras modalidades.