Dominicana autêntica
Bruno Voloch
Milão ( Itália ).
Ela impressiona pela autenticidade,
Converso por quase duas horas no hotel onde estamos hospedados com Priscilla Rivera, um dos símbolos da República Dominicana, sensação do mundial feminino da Itália.
29 anos, a jogadora é uma das mais experientes do grupo.
Viveu todo o processo de transformação que passou a seleção desde a chegada de Marcos Kwiek, brasileiro que revolucionou o vôlei no país.
Simpática, não tem papas na língua, por sinal afiadíssima.
Nesse papo, Priscilla detona russas e italianas, fala de vaidade, da realidade do vôlei da República Dominicana, futuro, convívio com brasileiros na Espanha, dificuldades e lembra de Ingrid Visser, holandesa assassinada na Espanha.
Blog: O que a República Dominicana pode fazer no 'final six' do mundial ?
Priscilla: Temos que ser nós mesmas e não mudar nada. Fazer exatamente o que vinha sendo feito até agora na competição. Estamos jogando muito bem, com coragem, força física, potência e taticamente de maneira inteligente.
Blog: Como você encara esse momento ?
Priscilla: É o grande momento da história do vôlei do país. Esses jogos contra China e Brasil serão os mais importantes de todos os tempos. Podemos e queremos ir além e disputar as semifinais. Penso sim ser possível. Hoje somos uma realidade e não chegamos por acaso. Ganhamos de seleções muito fortes como a Itália por exemplo.
Blog: O Brasil respeita a República Dominicana ?
Priscilla: Não sei, acho que sim. Deveria. Acho que hoje respeita um pouco mais, porém nem todas as jogadoras pensam assim. Não me importo com o que elas pensam. Tenho que me concentrar no melhor para minha seleção. Do Brasil, cuidem elas.
Blog: Quando o tema é respeito o assunto não agrada você ?
Priscilla: Falo sem problemas. Ninguém é melhor do que ninguém. As russas são umas merdas. Sim merdas. Por que olham para nós e para todas outras aqui com superioridade ? São seres humanos. Elas não respeitam as adversárias. E a arrogância das italianas ? Não sei o que é pior. É triste ver essa indiferença. Mas isso me dá mais força dentro de quadra e quando cruzo com essas merdas apenas ingnoro.
Blog: Você parece bem chateada …
Priscilla: Você não estaria ? A Gamova ( que estava sentada perto de nós como familiares ) simplesmente negou o pedido de um autógrafo de uma criança. Isso é inaceitável. Eu vi. Ninguém me contou e aconteceu aqui no hotel, portanto reitero que elas são umas merdas como pessoas.
Blog: Qual a importância do Marcos Kwiek nesse processo do vôlei no país ?
Priscilla: Marcos ? Toda. 100%. Ele é tudo para nós jogadoras. Treinador, amigo, pai e conselheiro. O vôlei do país é outro desde a chegada dele. Óbvio que nós temos nossos méritos, crescemos, evoluímos, mas tudo isso não seria possível sem ele. Tenho certeza.
Blog: Como é a Prsicilla fora de quadra ?
Priscilla: Muito família. Tenho uma filha de 11 anos, moro na Espanha, em Murcia, e pretendo assim que parar de jogar estudar. Não sei ao certo o que vou fazer da vida. Já pensei em ser advogada. Hoje ainda trabalho para sustentar e dar uma boa qualidade de vida para minha filha. Não pretendo jogar por muito tempo e penso em parar depois da olimpíada no Rio em 2016.
Blog: Por que tão cedo ? Você só terá 32 anos ?
Priscilla: Não. Estou cansada. Preciso de cabeça boa para trabalhar. Enquanto meu corpo responder, eu vou jogando, mas nossa vida não é fácil, Viajamos muito. Mas a pressão será grande para eu não deixar de jogar pela seleção. Fico sem saber o que fazer.
Blog: E como será sua temporada ?
Priscilla: Bem tenho convites da Turquia e do Azerbaijão. Ainda não sei. Estou resolvendo e deixo nas mãos do Cristóbal ( presidente da federação). Tenho confiança nele. Total. Mas será num desses países.
Blog: E você pensa em jogar no Brasil ?
Priscilla: Sim. Adoraria. Seria incrível. A Vargas esteve no Minas e me falou bem do país. Rio de Janeiro deve ser incrível. Carnaval. Acho que se for para o Rio não volto nunca mais … ( Priscilla ri muito … )
Blog: Murcia foi o último time da Ingrid Visser. Como aconteceu tudo ?
Priscilla: ( Ela chora e se emociona). Olha foi terrível. A Ingrid era linda, cheia de vida, pessoa maravilhosa. Espetacular. Estava muito feliz. Até onde sei o marido dela se envolveu com gente do clube, ficou devendo dinheiro e foi cobrado. Não tinha como pagar. A Ingrid morreu porque estava na hora errada e no local errado. Não era para ter morrido, mas ela seria cúmplice. Muito triste.
Blog: E hoje como estão as coisas no clube ?
Priscilla: O clube acabou. Não existe mais. Os dirigentes estão presos, mas nada disso irá trazer a Ingrid de volta.
Blog: Você tem boas recordações do Murcia ?
Priscilla: Sim. No início sim. Joguei 5 anos lá. Trabalhei com brasileiros casos do Paulo Coco ( assistente de José Roberto Guimarães ), Fofão e Jaqueline em 2007.
Blog: Aliás, como foi trabalhar com eles ?
Priscilla: Olha ( nesse momento as brasileiras passam pela hall ), o Paulo Coco é bom. A Fofão é uma pessoa espetacular, grande jogadora, mas a Jaqueline é difícil. Muito difícil. Uma ocasição tivemos uma discussão feia, expulsei ela do quarto, ela me xingou e não deu certo. Reagi. Mas isso é passado. Mas não é fácil conviver com ela.
Blog: Como você se define ?
Priscilla: Sou uma pessoa verdadeira, falo na cara e não tenho medo da verdade. Assumo meus atos durante o dia e acordo com a consequências no dia seguinte. Sem medo.
Blog: Mas isso tem um preço …
Priscilla: Se tem eu não sei, mas não estou preoucupada. Não mudo.