Unanimidade e raridade
Bruno Voloch
Milão ( Itália ).
Unanimidade.
Coisa rara, cada vez mais complicada de ser vista. Quando se trata de esporte coletivo então nem se fale.
A seleção brasileira feminina porém é exceção.
Não estamos falando de Fabiana, Thaísa ou Sheilla, titulares absolutas, imprescindíveis e com qualidades técnicas indiscutíveis.
A unanimidade tem nome e sobrenome.
Josefa Fabiola Almeida de Souza Alves, ou apenas, Fabíola.
Ela não concorda.
Talvez do alto de sua humildade, característica marcante, resista em assumir o título de jogadora 'mais querida' da seleção.
Mas é.
O rótulo foi conquistado e não é de hoje.
O corte da jogadora na véspera da olimpíada de Londres foi rebatido pelas principais lideranças do grupo.
Fabíola acatou. Silenciou. Sofreu quieta. Agiu.
Dentro de quadra com trabalho e dedicação deu a volta por cima.
Aos 32 anos parece pronta. Madura e com personalidade.
Não guarda mágoa. De ninguém. Virou exemplo.
A opção de José Roberto Guimarães pela levantadora é até discutível, assim como outras opções do treinador em determinadas posições. Nesse caso é mesmo difícil ter unanimidade.
Crítico direto da levantadora, me aproximo da jogadora e pergunto se podemos conversar, afinal nunca se sabe a reação daqueles que supostamente não sabem conviver com a crítica influenciados por terceiros e tomados pela vaidade.
Não é o caso dela. Decididamente não.
Eis que Fabíola 'me quebra'.
Admito.
Com um simples, 'sim Bruno, claro', falamos por cerca de 10 minutos.
'Não me acho a jogadora mais querida. Apenas sou uma pessoa tranquila, de grupo, que procuro ajudar a todas as meninas, a comissão técnica e sempre fazer o bem. Mas se você está dizendo fico feliz em saber que tenho esse reconhecimento das minhas companheiras de seleção'.
A discussão com Zé Roberto vira tema e Fabíola responde:
'Conversamos sim e acertamos. Não sou perfeita, tenho defeitos assim como qualquer ser humano. O mais importante é que estou aqui e disposta a ajudar'.
Falo da opção em deixar o país e jogar na Rússia.
'Sempre foi meu desejo. Quero aprender outros idiomas, cultura e ganhar experiência na vida. Esse intercâmbio será muito importante. A Rússia vai me fazer crescer em todos os sentidos'.
E o trauma do corte estaria superado ?
'Prefiro achar que não era para ser. Vontade de Deus. Deixo nas mãos dele. Algo de muito bom ainda deve estar reservado pra mim. Não guardo mágoa, não sou assim. É um sentimento que faz mal'.
Agradeço e antes de sair Fabíola completa:
'Nem de você. Procuro ver as críticas sempre como construtivas'.
Dura e surpreendente lição de vida.