Blog do Bruno Voloch

‘Primo pobre’ na elite do vôlei mundial

Bruno Voloch

Milão ( Itália ).

Um brasileiro que deu certo.

A frase é conhecida e já foi aplicada em ínumeras situações. Essa é apenas mais uma.

Asssim é Marcos Kwiek, técnico que entrou para a história do esporte na República Dominicana, ao classificar a seleção pela primeira vez para a fase final de um campeonato mundial.

O feito trouxe até Roma o presidente do país, Danilo Medina, que fez questão de cumprimentar as jogadoras.

Essa porém não é a primeira façanha de Kwiek.

Em 2009, as dominicanas desbancaram os Estados Unidos e ganharam a Norceca, torneio continental de maior rivalidade nas américas. No mesmo ano foram terceira colocadas na Copa dos Campeões do Japão.

2010 ficou marcado ainda pela conquista inédita da Copa Pan-Anericana.

Isso sem contar que a República Dominicana terminou a olimpíada de Londres na inédita quinta posição.

Marcos Kwiek, paulista de 47 anos, assumiu o cargo em 2008.

Trabalhou entre 2003 e 2007 como assistente técnico de José Roberto Guimarães na seleção feminina. A proposta para deixar o país foi encarada como o maior desafio da carreira.

Corajoso, diferente de muitos treinadores no país que preferem viver como auxiliares, Marcos Kwiek encarou de frente. Assinou por 4 anos com a federação local e hoje é o responsável direto por todas as categorias de base da República Dominicana. O trabalho também já tem dado resultados entre as juvenis e infanto.

Em Milão, Marcos conversou com o blog.

Hospedado no NH hotel em Assago, colado de onde estamos, falamos por mais de duas horas. Papo firme, aberto e de revelações.

Blog: Como sua seleção chega para jogar a terceira fase em Milão ?

Marcos: Sendo muito respeitada. Chegamos por méritos e muito merecimento. Vamos jogar de igual para igual com China e a seleção brasileira, mas sabemos do nosso potencial e queremos muito mais. Hoje somos uma realidade no vôlei mundial.

Blog: A República Dominicana seria uma espécie de 'França' do feminino repetindo o que aconteceu na Polônia ?

Marcos: Talvez. Seja como for, conquistamos o nosso espaço. No início do mundial ninguém falava na gente, mas nunca deixei de ter confiança no meu trabalho, da comissão e das jogadoras. Sabíamos que seria fundamental fazer uma boa primeira fase e foi o que conseguimos. Ganhamos da Itália o que não é fácil aqui dentro. A França mereceu no masculino e não se pode esquecer da Alemanha também. Nós viemos por fora e alcançamos nossa meta traçada desde o início do processo.

Blog: Essa diferença e estar entre os grandes assusta você  ?

Marcos: Nem um pouco. Somos o 'primo pobre' da festa, sei disso e não me importo. Não fomos 'convidados' de início, mas também não somos penetras. Direito adquirido. Mas agora vamos nos acostumar a frequentar a elite, a nata do vôlei mundial. O mais complicado não é chegar e sim a gente trabalhar muito e nos mantermos entre os mlehores, Assim será.

Blog: Mas e o rendimento ruim no Grand Prix. Você quer dizer que era esperado ?

Marcos: Não posso dizer isso. É ruim fica na posição que ficamos, mas nossa prioridade sempre foi o mundial, ou seja, alcançar o ápice da forma aqui na Itália. A estratégia deu certo. O Grand Prix ficou sempre em segundo plano e nunca tivemos força máxima.

Blog: E agora como será em 2015 fora da divisão de elite ?

Marcos: Normal até porque nossa prioridade ano que vem são os jogos Pan-Americanos de Toronto. Vamos novamente deixar o Grand Prix como opção. Jogar com Holanda, Cuba e outras seleções não é vergonha alguma. Vamos dar chance as mais jovens e trabalhar forte a base.

Blog: Como será enfrentar a seleção brasileira ? Você leva algum tipo de vantagem ?

Marcos: Acho que sim. Conheço bem todas as jogadoras do Brasil e a comissão. Posso sim me aproveitar dessa situação. Sei os pontos fortes e deficiências. Será normal. Já nos enfrentamos várias vezes. Existe respeito de ambas as partes. Sou muito agradecido ao Zé Roberto por todas as oportunidades que tive como profissional e minha formação, mas hoje preciso cuidar da minha seleção e da minha carreira. Canto o hino da República Dominicana com maior orgulho e sem cerimônia,

Blog: Quem é favorito ?

Marcos: O Brasil pelo histórico, pela tradição e pelo grande time que tem. Mas será um jogo franco, aberto e não temos medo do Brasil. Aliás, não temos medo do Brasil e nem de ninguém. De nada.

Blog: Alguma mágoa do vôlei brasileiro ?

Marcos: Mágoa não. Fiz minha opção de vida . Cheguei, reestruturei todo o vôlei da República Dominicana e tenho convicção da nossa parcela de contribuição ao esporte e a sociedade como um todo. Tenho sido chamado com frequência para assumir clubes no Brasil ( Praia Clube de Uberlândia e Sesi ) mas exigiram exclusividade e minha prioridade é a República Dominicana pelo menos até 2016.

Blog: Como é sua vida por lá ?

Marcos; Humilde, tranquila e vivemos muito bem. Eu, o Wagner e o Alexandre ( comissão técnica brasileira ) temos tudo que precisamos. Simplicidade, mas com estrutura. O presidente Crsitóbal Marte é um cara espetacular, homem de palavra, de compromisso e nunca deixou faltar nada desde que chegamos em 2008. Para ser uma idéia, meu contrato jamais foi registrado e é de boca. Nunca atrasou um dia em 6 anos. Isso não tem preço. Não troco essa estabilidade por nada.

Blog: E seu relacionamento com as jogadoras ?

Marcos. Ótimo. 100%. Vivemos numa realidade diferente de Brasil, Rússia, China, Itália e Estados Unidos. Aqui somos uma família. Não existe vaidade e as meninas dão valor a tudo que ganham. É uma relação de muito carinho e amizade. Construímos tudo isso juntos e será sempre assim. Falo sempre com elas no coletivo.

Blog: Quais são as estrelas da seleção ?

Marcos: Como te disse é um conjunto. Hoje, por exemplo, tenho a melhor líbero do mundo. Brenda Castillo. É a mais completa. A De la Cruz faz em média 30 pontos por jogo e trata-se de um atacante sensacional. Espetacular. A Vargas, Rivera, Mambru, Martinez e sem falar nas que estão chegando caso da Elizabeth Martinez que tem 18 anos e 2 metros de altura. Temos várias atletas da base aqui na Itália e isso é fruto do desenvolvimento nas categorias de base do vôlei dominicano.

A República Dominicana estreia na terceira fase do mundial na quinta-feira contra a China. Na sexta-feira enfrenta o Brasil.