Doug Beal: ‘Lucão está entre os 3 melhores do mundo’
Bruno Voloch
Doug Beal foi candidato ao cargo de Presidente da FIVB, Federação Internacional de Vôlei, nas eleições de 2012. O ex-técnico da seleção dos Estados Unidos acabou sendo derrotado em decisão apertada por Ary Graça.
Campeão olímpico em 1984 e considerado uma referência dento e fora das quadras, Doug Beal conversou comigo por quase duas horas no lobby do hotel.
Eis os principais pontos:
Blog: Imaginava algum dia assistir a abertura de um campeonato mundial dentro de um estádio de futebol ?
Doug: Nunca. Realmente foi uma iniciativa muito corajosa do Ary Graça. Ele fez o correto e não poderia arriscar realizar esse tipo de evento em qualquer país. A Polônia respira vôlei e era natural que os torcedores correspondessem como aconteceu. Algo realmente incrível. O que me preocupava era a parte técnica, mas a vitória da Polônia por 3 a 0 acabou sendo indiscutível.
Blog: A Polônia pode ir além ?
Doug : Não creio, Por mais que tenha o apoio do público existe uma limitação em quadra e nem sempre o incentivo que vem de fora é o suficiente para resolver e desequilibrar as ações.
Blog: Qual seleção é a favorita ?
Doug: Eu não vejo uma seleção e sim duas: Rússia e Brasil, na ordem. Mas times como Itália e Estados Unidos podem surpreender. A França é perigosa e foi uma grande surpresa não ter jogado as finais da liga mundial. O que existe hoje é um equilíbrio muito grande diferente de um passado recente quando Brasil, Itália e nós dominamos o mundo. Hoje não. É um sobe e desce muito grande e falta consistência para a maioria, inclusive Brasil e Rússia. ( Doug usou o termo up and down ).
Blog: Você não parece entusiasmado com o time dos Estados Unidos…
Doug: Não se trata de entusiasmo. A equipe é jovem, tem jogadores ainda universitários e pode sentir sim a pressão de jogar um campeonato mundial. Não é fácil. Temos um time muito bem montado, com jogadores fortes fisicamente, equilibrado na parte tática, mas o Sander por exemplo é garoto ainda. Anderson e Lee são fundamentais. O Micah ( levantador ) tem 21 anos. Como pode se exigir algo dele ? Nunca porém se deve desdenhar dos Estados Unidos. Gostamos de jogar contra as grandes potências.
Blog: E a seleção brasileira ?
Doug: O Brasil é um dos favoritos ao lado da Rússia. A verdade é que não tem mais a mesma força de anos atrás com Giba, Nalbert, André e Ricardinho ( esses citados ), mas tem tradição. Perdeu com a saída do líbero ( Serginho), mas hoje o jogador que pode decidir para o Brasil é o Lucas ( Lucão ).
Blog: Ele é o melhor do time ?
Doug: Sim. Disparado. Lucas é hoje um dos 3 melhores jogadores do mundo. Completo. É um atleta impressionante, agressivo e muito inteligente.
Blog: Você não citou Murilo, campeão do mundo, em 2010 ?
Doug: A pergunta foi quem era o melhor e respondi. Lucas é o melhor e quem pode decidir.
Blog: E a Rússia ?
Doug: Se jogar 100% ganha o mundial. Acontece que esse ano ainda não vi a Rússia 100% em nenhum jogo, ou seja, só se deixaram para jogar agora. É um time muito alto, com opções conhecidas, mas se jogar com passe na mão ( faz cara feia sobre o levantador ) fica complicado vencer eles.
Blog: Como vê essa relação de pai com filho na seleção. Bernardinho e Bruno ?
Doug: Muito difícil e pior para o Bernardinho. É quem mais sofre. Para o jogador não tem o mesmo peso. Para o técnico sim. Você tem filhos ? (respondo que sim. Dois). É natural que vc proteja sua cria. Acontece instintivamente mas que tem um peso dentro do grupo. Não deveria, mas o tratamento acaba sendo diferenciado. É natural. Mas não é uma situação confortável para o Bernardinho.
Blog: E quanto ao Bruno ?
Doug: Bom jogador, tem qualidades, mas está na média dos demais que jogam na posição.
Blog: E o trabalho de Bernardinho, como você avalia ?
Doug: Conquistou tudo que poderia, portanto os números respondem. É muito estudioso, sofre demais pelo time e precisaria se controlar. Não acho bonito para o jogo o comportamento dele fora de quadra, mas ele só sabe agir assim. Deveria repensar as atitudes. Ele briga até com a tecnologia.
Blog: E o avanço da tecnologia no vôlei ?
Doug: Existe o lado positivo na ajuda com a arbitragem. Existe o lado negativo de alguns treinadores se aproveitarem e retardarem o jogo mesmo sabendo que seu pedido não será aceito. Não vejo assim essencial. Fica uma coisa muito mecânica, tira um pouco do lado esportivo, afinal erros sempre irão acontecer, contra ou a favor, com ou sem tecnologia uma vez que você não pode parar a partida sempre.
Blog: Bernardinho e José Roberto estão há muito tempo dirigindo as seleções nacionais. Esse é o cenário ideal ?
Doug: Pergunta complicada ( ele ri e pensa ). Acho que não. Mas existem nomes e profissionais com a mesma capacidade ? Se não houver, não adianta trocar. Crises existem e o desgaste é natural que aconteça. Não existe unanimidade. Precisa ter respeito e saber quem decide, no caso o técnico. Você acha que todos os jogadores gostam do Bernardinho ? Você acha que todo gostavam de mim ? Seria uma hipocrisia achar que sim. Claro que não. O que pode segurar uma eventual crise ou momento de desgaste são os resultados, mas a mudança é natural e acho que no caso do Brasil não sou eu o mais aconselhado para falar.
Blog: E a seleção feminina dos Estados Unidos ?
Doug: ( ele se anima ). Essa vem forte demais para a olimpíada. Algumas jogadoras estarão de volta casos da Hooker e Megan. Logan está fora, mas outras podem reaparecer. Acredito que já no mundial o time possa dar trabalho, mas o projeto é para o Rio de Janeiro em 2016.