Bernardinho e o foco
Bruno Voloch
O foco.
Muito se comenta que Bernardinho, técnico da seleção masculina, tenha perdido o foco.
Não creio.
O técnico, que foi acusado de estar envolvido diretamente nas denúncias contra Ary Graça, ex-presidente da CBV, também teve seu nome ligado a política nos últimos meses, mais precisamente ao PSDB.
Bernardinho não esconde de ninguém a amizade com Aécio Neves e mantém contatos periódicos com Fernando Henrique Cardoso.
Apesar dos inúmeros pedidos, a candidatura ao governo do Rio não aconteceu. A família, segundo o treinador, teve peso direto na decisão de não se envolver ainda mais na política.
A opção anunciada em fevereiro fez Bernardinho retomar em tese o foco e dois meses depois o técnico levava o Rio de Janeiro ao nono título brasileiro.
Paralelamente, o treinador lutava para conseguir recursos e tentar salvar o projeto com o time masculino do Rio. Bernardinho foi um dos responsáveis pela criação da equipe.
O clube no entanto naufragou.
O foco passou a ser a CBV.
A entrada de Renan, amigo pessoal do técnico, foi o primeiro passo.
Embora tenha negado e jamais admito publicamente, fontes garantem que Bernardinho é considerado um dos responsáveis pela série de denúncias contra Ary Graça. Os dois jamais tiveram boa relação.
Curiosamente dentro de quadra a seleção masculina não rende.
Parou.
Os resultados são decepcionantes. Chegamos ao ponto de perder para o Irã, algo inédito na história do vôlei masculino.
A liga mundial entra na quarta semana.
Desde que assumiu a seleção, Bernardinho jamais foi tão contestado como agora. Não existe crise, ainda.
O que mais chamou atenção nos jogos em São Paulo, especialmente para aqueles que conhecem o trabalho de Bernardinho, foi a naturalidade e passividade em aceitar as derrotas, algo incomum na carreira dele.
O treinador sempre conseguiu tirar o máximo de cada jogador.
Hoje o que se vê é um grupo inseguro, time titular indefinido e alguns atletas muito longe das condições físicas e técnicas ideais.
É cedo para afirmar que Bernardinho tenha perdido o foco. Mas as coincidências são inegáveis.
Longe dos holofotes e com a mídia toda voltada para a Copa do Mundo, a seleção sob pressão, se agarra ao passado e busca reagir no Teerã.
Os jogos contra o Irã acontecem na sexta-feira e no domingo.